MIGUEL MARTINS
( Portugal )
Nazaré, Portugal.
en delírio há vinte anos – non nova sed nove – abril 2011. Revistazine comemorativa dos vinte anos de dlírios. Coord. Luís Paulo Meires e Mário Galego. Nazaré: 1991. ilus. p&b.
Ex. bibl. Antonio Miranda
Estilo
Analépse?
Parlipse?:
Muito pouco,
ou nada.
Contato
Ler antes de assassinar.
*
Dizem que a vida me foi dada à borla.
Só eu sei quanto isso me custa.
Dizem que não penso nos outros.
Deus sabe o tempo que gasto em pensar nisso.
Dizem que tenho um ego agigantado.
É a única coisa que tenho.
Dizem que vou acabar sozinho.
Tem razão.
*
uma aldeia sempre verão
uma aldeia biblioteca
uma aldeia parque de merendas
uma aldeia orgia
uma catedral sincera.
*
Venham,
vamos pintar os dentes e azedar o bucho.
Não é nada de mais, eu sei.
É, até sempre o mesmo.
Mas é o que se arranja a esta hora.
Foi sempre o que se arranjou,
a qualquer hora,
desde que nos lançamos às urtigas
e entardecemos o esqueleto à prudência.
Os cigarros são curtos, o bagaço
ardente. E o que adiam chega,
impreciso se brutal.
Mas nem por isso iremos plantar cactos
ou zurzir o veludos daos caçadores.
Sobretudo, a esta hora:
seria ridículo, e a presenção
ficou pelo camino. Recordam-se?
Era Junho. E, certo dia,
não amanheceu nunca mais.
*
Não o meu — o nosso suicidio,
vespertino, sem anjos nbem demônios,
suspensão desta conversa ao contrario das árvores,
arnela purulando uma vaca moribunda.
Não o nosso — o vosso suicidio,
enquanto a tarde me rasga dos bolsos aos cabelos
aos pequenos papéis em que não digo nada
do que então (já) não fui e não serei.
Evitemos, sobretudo, o despropósito —
o medo, a indecência, a cor esbatida
com que engañamos o nosso nascimento —
não faria sentido e ainda é cedo
para convocar Quem nunca nos fez falta.
Morramos com os olhos no futuro,
estúpidos como sempre, consignados
aos grandes desafíos da engenharia.
Não o meu suicidio — não, não só.
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